Escrever para os outros é bom para que as ideias também fiquem mais claras para nós próprios. Este é um post mais pessoal e a minha opinião vale o que vale, como qualquer outra.
Sofri com o que aconteceu em
Paris naquele dia. Foi uma ação de relações-públicas para todo o Ocidente, um
ato injustificado de violência, como todo o tipo de terrorismo. Mas nunca fui
Charlie. Sei que é sátira mas considero-o humor barato, puro
sensacionalismo e com o objetivo de chocar.
Na altura do ataque à sede de
jornal Charlie Hebdo no início deste ano, li, não sei já onde, uma comparação
que transfere a situação para um terreno mais claro e acessível a qualquer um. Raparigas
que vestem roupas mais provocadoras. Um dia, são
violadas. “Estava mesmo a pedi-las!” é um dos comentários machistas que geralmente
se ouvem. Vivemos no século XXI e qualquer pessoa, nomeadamente mulher, ganhou o
direito de vestir aquilo que mais lhe agrada. Os outros têm igualmente direito
a ter uma opinião. Têm de gostar? Não. Pessoalmente, e sem qualquer puritanismo,
acho de mau gosto mulheres que revelam demasiado. Para mim, é mais
interessante e sensual uma mulher que se saiba vestir bem e que deixa algo para
imaginação (não estou a falar de gola alta nem de cuecas da avó,
obviamente). Mas é só isto. Uma coisa não leva à outra como ação-reação. Quanto
muito, ação-opinião e essa opinião deve ficar para nós enquanto não for solicitada.
É preciso saber viver com os outros.
Nas semanas que se seguiram ao ataque foi vergonhoso
ver muitos cruzados pela liberdade de expressão e #JeSuisCharlie por todo o
lado mas… quando alguém proferiu palavras mais polémicas ou contrárias à sua
opinião (como foi o caso de Gustavo Santos), foi atacado. No minuto seguinte, esquecem-se da nobre causa que defendem. A esta situação
vem agravar a nova caricatura do jornal que faz alusão ao bebé sírio de três
anos, Aylan, que foi encontrado morto numa praia turca. Aqui houve uma onda de
revolta e o hashtag antes tão profusamente partilhado deu lugar a
#JeNeSuisPasCharlie. Desta já ninguém é Charlie. Não compreendo no que é que estas
novas imagens diferem das outras. Pode caricaturar-se as divindades dos outros
(muçulmana, cristã ou qualquer outra) mas crianças e refugiados sírios já não?
Pessoalmente, acho que é preciso pensar um bocadinho na totalidade da situação antes
de nos pronunciarmos.
Apoio indubitavelmente a
liberdade de expressão (não tivesse eu tirado um curso em Comunicação Social e
Cultural). Contudo, liberdade de expressão não é uma chancela imbecil para que
não me preocupe com o que as minhas palavras podem causar nos outros. Para mim,
a liberdade de expressão oferece-nos o direito de nos manifestarmos livremente
sem qualquer limitação por lei mas deve, no entanto, ser regida por um
sentimento de autorresponsabilidade.
Não partilho #JeSuisCharlie. Nem #JeNeSuisPasCharlie.
Sei que existe e não gosto do estilo.
Para mim, isto é liberdade de expressão.
Enviar um comentário
Thank you! ❤ Muito obrigada pelo teu comentário! ❤ Your feedback is highly appreciated. I'll make sure to answer all your question and return the love on your blog.